segunda-feira, 30 de maio de 2011

"CÓDIGO CRIMINOSO"



Os fatos...
24 de Maio - Dia em que os deputados, esdruluxamente, aprovaram o novo código florestal em Brasília, o casal de lideres extrativistas, José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, foi executado na cidade de Nova Ipixuna, no sudeste do Pará. A suspeita é de que eles tenham sido executados por madeireiros. Silva era considerado sucessor de Chico Mendes.
(Fonte - Mídia News)



27 de Maio - Adelino Ramos, o Dinho, foi assassinado no distrito Ponta de Abunã, em Rondônia. A vítima era sobrevivente do Massacre de Corumbiara, ocorrido em Agosto de 1995. Dinho vinha denunciando a ação de madeireiros na região da fronteira entre os estados de Acre, Amazônia e Rondônia.
(Fonte - CPT Nacional)


28 de Maio - O corpo do agricultor Eremilton Pereira dos Santos, de 25 anos, foi encontrado por moradores do Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna, no sudeste do Pará.
(Fonte - Estadão)

A repercussão ...
O primeiro crime foi repercutido no mundo inteiro: The New York Times, Washington Post, The Guardian, Rádio BBC de Londres, El País, entre outros grandes jornais, divulgaram o assassinato dos ambientalistas, ora lembrando da morte de Chico Mendes ora enfatizando o fato do crime ter ocorrido em meio ao debate do novo Código Florestal no Congresso.

Embora a mídia brasileira não se importa muito com esses fatos da região amazônia - como afirma o jornalista Mauricio Simionato, que foi correspondente do Jornal Folha de S.Paulo no Pará - palavras do Editorial da Revista ISTOÉ, dessa semana (1 de junho), representa a  indignação de inúmeros brasileiros muito mal representados por seus políticos. Deputados possuem poder para criar leis e efetivá-las de uma forma a mudar essa realidade na região amazônica, pelo menos, numa proporção de ter justiça nessas terras, nas quais as Leis parecem ser as da selva. Entretanto, ao contrário de todas essas possibilidades, esses mesmos políticos se escondem atrás de seus interesses e aprovam leis, como o novo código florestal, para anistiar criminosos (já que desmatar é crime) e favorecer gostos ruralistas, em detrimento, da preservação de uma riqueza que possui valor, ainda, incalculável. E é nesse contexto que estão as palavras, do texto "Código Criminoso", de Carlos José Marques, Diretor Editorial da Revista ISTOÉ.


CÓDIGO CRIMINOSO
Tombaram assassinados na semana passada os extrativistas José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo, que combatiam o desmatamento desenfreado e ilegal na região do Pará, onde moravam. Sinal dramático da derrota gradativa da causa ambientalista, que vem apanhando até no Legislativo, a morte do casal ocorreu coincidentemente no mesmo dia em que deputados votaram e aprovaram o novo Código Florestal cujo teor é claramente favorável aos interesses ruralistas. Os madeireiros são os principais suspeitos da emboscada que vitimou José e Maria. São também os maiores benefi ciários do novo código que saiu da Câmara.

O mundo sublinhou que “destruidores da fl oresta” venceram mais uma vez. Em duas frentes. Eliminando adversários – tal e qual ocorreu com o líder seringueiro Chico Mendes, anos atrás – e legalizando décadas de abate ambiental. Como afronta à preocupação do planeta com a preservação do meio, o código prevê, inexplicavelmente, anistia geral e irrestrita aos devastadores da Amazônia que praticaram o crime até 2008. Uma aberração! Milhares de hectares de árvores foram sistematicamente derrubados para exploração comercial, sem nenhuma fi scalização, deixando a céu aberto amplos clarões no cinturão verde do País.

O corte irresponsável e a queima de matas constituem hoje um dos maiores desastres globais e o Brasil, em vários Estados, lidera as estatísticas desse atentado ecológico. Um documento explosivo entregue ao governo federal por autoridades de Mato Grosso mostra que nos meses de março e abril – portanto às vésperas da aprovação do código – houve um aumento do ritmo de desmatamento em quase 500% sobre o mesmo período do ano passado. A certeza da impunidade e do perdão que viria a seguir teria levado ao quadro de tragédia.

Quase em simultâneo, José e Maria faziam uma persistente campanha alertando para o problema e denunciavam que estavam sendo ameaçados de morte pela ousadia de encarar o lobby madeireiro. O poder constituído fechou os olhos aos dois crimes. O destino dos ambientalistas foi selado. Políticos movidos por interesses econômicos específi cos – eles mesmos proprietários de terras, como revelou ISTOÉ em sua edição de número 2165 – impuseram uma derrota fragorosa ao governo Dilma e com a canetada a favor do código sacramentaram a exploração desenfreada do meio ambiente.

Por leniência, descaso e até mesmo conivência dos que podiam fazer alguma coisa e não o fi zeram, José, Maria e milhares de árvores foram abatidos. A presidente Dilma, irritada  com o desfecho, vai brigar para reverter o processo. Ameaçou vetar o código, exigiu o fi m da anistia aos desmatadores e o estabelecimento de áreas de proteção da vegetação nativa nas propriedades rurais e nas margens de rios e encostas. Ainda há uma esperança de que as mortes de José e Maria não tenham sido em vão. 

Carlos José Marques, diretor editorial da Revista ISTOÉ

Por Francela Pinheiro - Boa Reflexão a todos!!!!!!!!

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